Cada palavra é única, com um som, um significado, um jeito de ser original. Nem sempre percebemos, mas elas têm sabor, ora amargo, ora doce, ora forte, ora leve. Há palavras que degustamos como se estivéssemos saboreando uma fruta. Há, também, palavras-ilha. Amor é uma delas, com muitos sentidos ao redor.
Este pequeno texto, que podemos chamar de crônica, é feito de palavras que oferecem caminhos. Elas podem ser interpretadas de forma diferente, mesmo que sejam aparentemente iguais. Se levarmos a leitura ao campo poético, então, com maior intensidade ainda, veremos o quanto as palavras ganham sentido diverso em novos contextos.
Importa entender como o conhecimento prévio de cada leitor ou ouvinte interfere na compreensão de cada palavra. E mais: a tradução tem muito a dizer sobre isso. Não é por nada que muitas vezes lemos e ouvimos a acusação de que os tradutores são "traditori", ou seja, traidores, porque uma só palavra mal escolhida pode levar a um sentido que fere o pensamento ou a emoção original.
Cada palavra é única! Há, sim, sinônimos, algumas tão irmãs, que parecem até siamesas. Se vamos ao DNA de cada palavra, veremos que umas se assemelham a outras, mas não são iguais na origem, na história, no seu significado. Neste mundo as palavras existem aos milhares, soltas e livres nos campos do pensamento humano, matéria-prima na literatura universal.
Normalmente é dada atenção ao que a palavra significa no contexto. A palavra, individualmente percebida, retirada do seu habitat, desperta até curiosidade como quando se quer descobrir como ela surgiu, muitas vezes com origem greco-romana.
As palavras paz e guerra voltam a ocupar um grande espaço. Elas assumem novos significados porque representam uma realidade viva, cruel e desumana. A lucidez agoniza, enquanto a Paz atravessa a fronteira na busca de crianças e mães desesperadas, fugindo do horror da destruição de vidas.
O mundo clama pela paz. A guerra quer hegemonia. As palavras sonham novos significados no século 21. Pensar em paz e guerra, nos conflitos atuais, envolvendo a Rússia e a Ucrânia, por exemplo, não é o mesmo que falar em conflitos regionais, nacionais e internacionais (o que sempre existiu), mas, ao situá-los, eles ganham rosto, alma e coração, com pés que avançam ou recuam. Essa é a dura e amarga realidade.
Por Máximo Trevisan
Advogado e escritor